segunda-feira, 25 de maio de 2009

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Batuque




Batuque era uma dança que compunha um ritual de fertilidade, que veio para o Brasil no período colonial junto com os negros africanos.
Nessa época, os portugueses consideravam batuque qualquer tipo de dança praticada pela comunidade negra. Na região Norte, o Batuque enraizou-se principalmente no Pará e no Amazonas, onde a palavra "batuque" também serve para designar práticas religiosas afro-brasileiras.

Hoje, no Rio Grande do Sul, o batuque é conhecido como uma cerimônia religiosa muito semelhante ao candomblé baiano ou a macumba carioca e paulista. Já no estado de São Paulo é dança de terreiro, onde estão presentes os membranofônicos: tambu, quinjengue ou mulemba, e os idiofônios: matraca e guaiá. A região batuqueira paulista localiza-se no vale do Médio Tietê, abrangendo alguns municípios como Tietê, Porto Feliz, Laranjal, Pereiras, Capivari, Botucatu, Piracicaba, Limeira, Rio Claro, São Pedro, Itu, Tatuí. Em Campinas era chamado caiumba, segundo registros de Carlos Gomes.

Em Botucatu, até 1920 havia os batuques no Largo do Rosário, no dia 13 de maio. Em São Carlos ficaram famosos os batuques do Cinzeiro, o bairro da Bola Preta, por causa da população negra e pobre que ali residia.


COMO É A DANÇA?
Dança de terreiro com dançadores de ambos os sexos, organizados em duas fileiras. Estão separadas uma da outra cerca de 10 a 15 metros, espaço no qual dançam.
A coreografia apresenta passos com nomes específicos: "visagens" ou "micagens", "peão parado" ou "corrupio", "garranchê", "vênia", "leva-e-traz" ou "cã-cã". Os passos são executados por pares soltos que, saindo em fileiras, circulam livremente pelo terreiro. Mas, o elemento principal da coreografia é a "umbigada", ou seja, quando o ventre da mulher bate à altura do ventre do homem. Os dançadores dão passos laterais arrastados, depois levantam os braços e, batendo palmas acima da cabeça, inclinam o corpo para trás e dão vigorosas batidas com os ventres. Esse gesto é repetido ao fim de todos os passos. No batuque não há batidas de pés e um batuqueiro não dança sempre com a mesma batuqueira. Após três umbigadas procura batucar com outra.
No encerramento do batuque a dança saideira é o "leva-e-traz". O cavalheiro faz vênia, não dá "batidas" ou umbigadas, vai levar a dama no seu lugar inicial.
Um batuqueiro "modista" faz "poesia" ou "décima". Outras vezes, cantando em determinada "linha", em dado momento quanto os demais encontram uma boa trova, "suspendem o ponto" e começam a repetir aquela quadra ou "linhada dupla de versos". A consulta coletiva é finda quando "levantam o ponto" ou "sustentam", isto é, quando começam a repetir a melodia e palavras. A consulta coletiva é sempre feita em frente do instrumento fundamental do batuque, que é o tambu. O grupo de homens é levado pelo "modista" até onde estão as mulheres. Essas aprendem logo a melodia e palavras. Quando "afirmam o ponto", ou seja, decoram, repetindo texto e música, o primeiro a dar umbigada é o "modista'. Os demais batuqueiros começam a dançar. Dão umbigadas sempre presos ao ritmo do tambu. Quinjengue e matraca são tocados freneticamente. Os batuqueiros dão três umbigadas, voltando aos seus lugares primitivos. Agora são as mulheres que vêm onde estão os homens para dar umbigadas. Um ponto é cantado e dançado durante 10 a 20 minutos.


Como é uma dança ritual de procriação, não é permitido que o pai dance com a filha, porque é 'falta de respeito dar umbigada", então executam movimentos que nos fazem lembrar a coreografia da "grande chaîne" (grande corrente) do bailado clássico.
É pecado dançar nos seguintes casos: pai com filha, padrinho com afilhada, compadre com comadre, madrinha com afilhado, avó com neto ou batuqueiro jovem. Se, por descuido, um batuqueiro bate uma umbigada na afilhada, essa lhe diz:
-"A bênção padrinho!".
O padrinho então vem lhe dando as mãos alternadamente até perto da fileira onde estão os batuqueiros, sem batucar.

Segundo a descrição de Alfredo Sarmento, em Luanda e outros distritos de Angola, "o batuque consiste também num círculo formado pelos dançadores, indo para o meio um preto ou preta, que, depois de executar vários passos, vai dar uma umbigada, a que chamam de "semba", na pessoa que escolhe, a qual vai para o meio do círculo, substituindo-o".
Foi essa umbigada ou "semba" de onde provavelmente se originou o termo "samba", de início tomado como sinônimo de batuque. Nos primeiros tempos da escravidão, a dança profana dos negros escravos era o similar perfeito do primitivo batuque africano, descrito pelos viajantes e etnógrafos.

Batuque e samba tornaram-se dois termos generalizados para designar a dança profana dos negros, no Brasil. Mas, em outros pontos, tomavam designações regionais, por influência desta ou daquela tribo negra, que forneceu um maior contingente de escravos a esses pontos.


INSTRUMENTOS MUSICAIS

Os instrumentos musicais são todos de percussão: Tambu, Quinjengue, Matraca e Guaiá ou chocalho. O Tambu é um tambor medindo cerca de metro e meio de comprimento, feito de tronco de árvore, recoberto numa das extremidades com couro de boi; o Quinjengue é tambor menor, afunilado, feito nos moldes do Tambu; a Matraca consiste em dois pedaços de madeira que percutem no corpo do Tambu; o Guaiá é um chocalho duplo, em forma de cones, feitos de folha-de-flandes e recheados com sementes ou pedaços de chumbo. A afinação dos tambores é obtida por aquecimento do couro em fogueira que preside toda a dança. O tocador do Tambu monta sobre o instrumento e bate no couro com as mãos espalmadas; O Quinjengue fica apoiado no Tambu e fixo entre as pernas do tocador, que inclina e percute o couro também com as mãos; na parte posterior do Tambu fica o tocador de Matraca, agachado ou encurvado, batendo com os paus no corpo desse tambor; o Guaiá geralmente circula entre os cantores.


A música compreende as "modinhas" e as "carreiras". As primeiras são constituídas por versos que aludem a assuntos variados. Constituem a parte musical propriamente dita. As carreiras são cantigas de desafio, entoadas com acompanhamento apenas do Guaiá, pois ocupam o tempo em que os tambores estão sendo afinados ao pé do fogo. Nelas há a observância de linhas, isto é, rimas poéticas com terminações obrigatórias. Subdividem-se em "com fundamento" e "sem fundamento". As primeiras propõe adivinhações à semelhança dos "pontos" do Jongo e do Caxambu; as segundas desobrigam os cantadores do uso de metáforas.
Não há indumentária específica: são exigidos apenas saia rodada e lenço amarrado à cabeça das mulheres.



BATUQUE NA AMAZÔNIA


O Batuque Amazônico trata-se de uma homenagem à "cabocla Jurema", entidade bastante conhecida dos praticantes da Umbanda e demais cultos afro-brasileiros que, segundo os estudiosos, faz parte da mesma "linha" ou “falange” de São Jorge, santo católico que tem o guerreiro Ogum como correspondente, de acordo com o sincretismo religioso. Segundo as lendas, a cabocla Jurema habita cidades existentes no fundo das águas e tem a lua nova como período predileto para realizar seus trabalhos de encantamentos.
A dança folclórica em homenagem à Jurema começa com uma invocação à entidade entoada pelos componentes do grupo folclórico pedindo proteção para toda a Amazônia, região intimamente relacionada à Jurema devido à abundância do elemento água.
O Batuque Amazônico é desenvolvido por casais de dançarinos. As moças usam blusa confeccionada em cambraia que acompanha a saia branca rodada com detalhes amarelos. Na cabeça, um turbante característico dos cultos afro-brasileiros é usado. Os dançarinos apresentam-se sem camisa, usando apenas calças brancas e muitos colares feitos com contas. Como a maioria das danças folclóricas da região, não se usa sapatos no Batuque Amazônico.

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