segunda-feira, 25 de maio de 2009

701- C

AS PASTORINHAS



Entre os bailados folclóricos do Ciclo Natalino da Amazônia, podemos citar o das PASTORINHAS. Esse é o único cujos componentes são em geral compostos por moças. Foi introduzida no Brasil no século XVI, pelos jesuítas, que para catequizarem os índios, elaboravam verdadeiras peças teatrais de representação do nascimento de Jesus.
Nossos índios, acostumados com seus ritos, que eram realizados em cada momento que julgavam importantes em suas vidas, identificaram-se com estes eventos, pois eles eram constituídos de representaçmposta de instrumentos da época. As primeiras melodias pastoris brasileiras não eram de caráter folclórico, mas hinos religiosos adaptados para exibições públicas. Com o tempo, os instrumentos foram sendo substituídos por outros de origem eminentemente popular e as melodias, antes religiosas, deram lugar às profanas.
Hoje, as Pastorinhas são acompanhadas de uma bandinha composta de violão, pandeiro, bombo e clariões dramáticas muito coloridas, movimentadas, com muitas danças e cantos.
Nessa época, os bailados pastoris aconteciam sempre à noite, após novenas solenes, que reunia todas as autorid
esiásticas, políticas e o povo, que tinha nesse acontecimento, o mais importante do ano.
Toda a apresentação era inspirada nos autos da natividade e realizada em frente a um grande presépio, todo ornamentado, cujo ponto principal era a imagem do Menino Jesus.
Comandadas por uma mestra e uma contramestra, cantando e exaltando
Alas, acompanhava os cânticos uma banda conete. As
Pastor Guia, Pastor Divino, Mestra, Contramestra, Diana, Borboleta, Portuguesa, Espanhola, Anjo Gabriel, Sabina, Cão, Ceifiera, Gentileza, Rosa, Sucena, Flora, Florista, Libertina,o nome do Menino Jesus.
Perdida, Pequenina, Cigana e Saloia e a ensaiata que supervisiona a festa e prepara a saída e entrada de cada brincante.
O primeiro personagem a entrar no palco é o Pastor Guia que inicia a festa cantando:

"Sou o Pastor Guia, que alegre venho, acordo cedo e vou para as campinas, eu vou juntar meu lindo rebanho, que é dos maiores; sou eu o Pastor Guia, que venho anunciar: eu trago as minhas ovelhas que é para elas não se debandar."
Foi mantida na narração a linguagem em versão original, assim como as cores correspondentes à cada personagem:


Anjo - vermelho Gentileza - azul
Pastor Guia- vermelho Açucena - azul
Mestra - vermelho Ceifeira - azul
Diana - vermelho Sabina - azul
Saloia - vermelho Florista - azul
Hora - vermelho Libertina - azul
Jardineira - vermelho Pastor Guia - azul
Galego - vermelho Contramestra - azul
Cigana rica - vermelho Borboleta - azul
Diabo - vermelho e preto Pequenina - azul
Rosa - vermelho Galega - azul
Baiana - vermelho Cigana - azul
Camponesa - vermelho Perdida - azul
Estrela - azul


PASTOR DIVINO
Sou pastor divino
Das montanhas de Belém
Eu venho rever ao mundo Jesus
Para o nosso bem (bis)
ANJO GABRIEL

Acordem belas pastoras,
Acordem com todo amor,
Que em Belém foi nascido
Jesus para nos salvar.

PASTORAS

Que vozes são estas
Que vêm despertar.

ANJO

É o anjo do Senhor que vem anunciar
O nascimento de Cristo, que vem nos salvar;
Vão pastoras, vão com alegria
Anunciar o nascimento de Jesus.

PERDIDA

Perdida meu Deus, perdida delas estou.
Eu não sei aonde as pastoras estão.
Todas de mim se esconderam;
Chamei, tornei a chamar,
Mas nenhuma me respondeu.
Eu vim cumprir minha sina,
A sina que Deus me deu.

CHAMADA DAS PASTORAS

Longe, longe das campinasMeia noite deu sinal que Jesus nasceu
na cidade de Judá.
Pastoras já é tempo de fazer nossa jornada
Que a noite vai surgindo,
Vai rompendo a madrugada

Madrugada lá, lá, lá (bis)


Em Pernambuco do Auto pastoril faz parte uma figura curiosa: o Velho. Cabe a ele, com suas largas calças, seus paletós alambasados, seus folgadíssimos colarinhos, seus ditos, piadas, anedotas e canções obscenas, animar o espetáculo, mexendo com as pastoras, que formam dois grupos: o cordão encarnado e o cordão azul.
O Velho também tira pilhérias com os espectadores, inclusive recebendo dinheiro para dar os famosos “bailes” - descomposturas - em pessoas indicadas como alvo. “Bailes” que muitas vezes, em outros tempos, terminavam em charivari, ao qual não faltava a presença de punhais e pistolas. O Velho se encarrega ainda de comandar os “leilões”, ofertando rosas e cravos, que recebem lances cada vez maiores, em benefício das pastoras, que têm seus afeiçoados e torcedores.
Também nos Presépios encontram-se os dois cordões. O Encarnado, no qual figuram a Mestra, a1ª do Encarnado e a2ª do Encarnado, e o Azul, com a Contra-Mestra, a1ª do Azul e a2ª do Azul. Entre os dois cordões, como elemento neutro, moderando a exaltação dos torcedores e simpatizantes, baila a Diana, com seu vestido metade encarnado, metade azul.



Os pastoris praticamente desapareceram das
capitais e grandes cidades do Nordeste. Só nos bairros e povoados mais distantes e em algumas cidades do interior eles são vistos, mesmo assim sem as características que marcavam os velhos pastoris nordestinos, não deixando, no entanto, de cantar as jornadas do começo e do fim: a do Boa Noite e a da despedida.

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